Certo dia, pensando essas coisas do alto, conversava com Deus e decidi pedir-lhe algo de material. Pedi e concluí que tudo o que saía de minha boca era indigno e mentiroso. Senti vergonha e para melhorar a situação, resolvi não pedir nada a mim e sim ao próximo. Mesmo assim, de tudo o que saiu de minha boca, só havia indignidade e mais mentiras. Aturdido com a miséria que me era própria, achei melhor nada pedir nem a mim nem a outro, e passei apenas a agradecer. Quanta magnanimidade a minha! A verdade é que em algum lugar nesses agradecimentos, por mais sinceros que eu tentasse que eles fossem, aquilo em mim de inevitavelmente errado, falível e sempre pronto a feder, maculava-os. Logo, percebi que no universo inteiro de todas as frases possíveis, absolutamente só uma poderia ser dirigida a Deus sem que houvesse qualquer possibilidade de indignidade e mentira. A frase é: Perdão ó Senhor. Afinal, mesmo a falibilidade possível naquilo o que se diz, sempre presente por conta da falibilidade daquele que diz, é anulada no pedido de perdão que é infalivelmente a expressão de um desejo que ao mesmo tempo em que deseja, reconhece a própria miserabilidade daquele que deseja.

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