domingo, 6 de março de 2022

1° reflexão quaresmal

 Há uma sútil diferença que experiencio ao ler Santo Tomás e Santo Agostinho: o segundo adorna suas verdades com as molduras da beleza literária; o primeiro, pela sua arte escultórica miraculosa de lapidar argumentos, torna algumas vezes impossível distinguirmos se o que escreve é belo porque é verdade ou é verdade porque é belo. Parece-me que Santo Tomás, não busca a beleza, entretanto sua busca pela sabedoria alça vôos tão altos que chegando na exosfera das formas platônicas, surpreende lá, a verdade e a beleza em seu abraço eterno. 

 Um desses momentos é quanto nos revela que em Deus estão as perfeições de todas as coisas e de um modo eminente e superabundante. Ora, esse é o tipo de coisa que por bem pouco não abrasa nossos miolos só na tentativa - claro, sempre infecunda - de tentarmos imaginar o que isso significa. 

 Vamos pegar pesado, comecemos com algo exuberantemente perfeito: Bach. Para quem já se deleitou com a obra desse magnânimo compositor, certamente chegou perto daquele longínquo lugar no qual habita a em extinção fauna do êxtase estético. Então, tenhamos em mente que a contemplação dessa perfeição que experienciamos em Bach, será somente um istmo insignificante de toda a perfeição concentrada em Deus que contemplaremos infinitamente. 

  A Boa Nova que nosso Senhor nos trouxe é tão excelsa que mal podemos compreendê-la. A conhecemos, afinal só se pode querer aquilo o que se conhece, mas quanto mais se conhece mais se quer e creio que se conhecêssemos tal como conheceram os santos a excelsitude da Boa Nova, os ossos de nossa alma queimariam no fogo Santo do Amor divino. Conhecemos tão pouco e mesmo assim é o suficiente para entregarmos nossas vidas à essa esperança.           

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