domingo, 28 de fevereiro de 2021

O iogue de Bagé



Fiz uma breve, porém minuciosa pesquisa, no Datafolha de minha imaginação e cheguei ao inequívoco resultado de que: "há mais mestres de sabedoria oriental no interior do Rio Grande do Sul, do que em toda Índia." Não faz muito, conheci o Lobo Cinzento. Um homem profundamente espiritualizado, quando jovem era o maconheiro da cidade, mas também filho do Alemão, dono da melhor churrascaria de Anta Gorda. De tanto o piá incomodar, o pai deu-lhe dinheiro para conhecer o mundo. Resultado, voltou à sua cidadezinha oito anos depois, com sífilis, um livro sobre os chákras e um novo nome: Lobo Cinzento.

Olha, essa história é muito comum. O jovem impetuoso, sentindo-se aprisionado pelas muralhas das convenções sociais, resolve fugir com a desculpa de conhecer o mundo. Vai e muitas vezes realmente enfrenta diversas aventuras, vive como um nômade e de fato tais vivências não raras vezes tingem sua personalidade com algum ar de sabedoria. Mas o que ocorre frequentemente, é que depois de inúmeras aventuras, colhem os frutos desse tipo hodierno de aventureiro drogado que mal pode dizer que guarda muitos tesouros em sua memória, posto que a maioria de suas recordações, sumiram no lixo de suas ressacas psicotrópicas.

Em verdade, a maioria desses caras, voltam para a casa com quase quarenta anos e descobrem que mesmo tendo conhecido o mundo, ainda dependem de suas famílias. Tornaram-se especialistas em sobreviver às agruras de viagens perigosas, mas sedentarizando-se não são capazes de sobreviver sem o auxílio paterno. 

Descrito o cenário, não poucos, sem os país para ajudar ou com alguma vergonha na cara, na tentativa de ganhar dinheiro, tornam-se vigaristas da transcendentalidade: astrólogos, massagistas, xamãs ou iogues. E são tantos. Em qualquer cidadezinha, já há mais centros de meditação do que CTGs. Ora, a bestialidade de alguns funcionários públicos, das dondocas cheias de tédio e dos esquisotéricos, todos buscando algo que disfarce o buraco espiritual de suas vidas, faz-lhes dispostos a obedecer servilmente o antigo drogadinho da cidade.

E em relação a isso, nada de surpresas. Como é fácil ser um mestre numa tradição antiga que ninguém conhece e que muito provavelmente em sua originalidade, tenha surgido de um estelionatário. A estupidez venceu, dizia-me um antigo colega da faculdade de filosofia - com quase toda certeza maluco. E é verdade, a estupidez venceu. Os mesmos que me chamam de supersticioso por rezar o terço, desavergonhadamente alinham seus chákras, tomam batida de placenta e não saem de casa sem conferir o horóscopo picareta dos jornais. 

Autêntico mesmo é o iogue de Bagé:

 - Senta guasca, e para dessa frescura de posição de Lótus e te firma na mais antiga tradição oriental do sul: a posição do Guanxuma no mato. 


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