Tem algo de errado com o Brasileirinhos. O Brasileirinhos é uma ponte, não! É uma pinguela e como toda pinguela sua existência é arranjada no extremo da tensão de ser. E nessa tensão trememos, nossos dentes rangem, afinal ela nos coloca diante de um paradoxo e todo paradoxo do ponto de vista humano, é um caminho sem caminhar e que mesmo assim, vai à frente na ladeira incontrolável dos acontecimentos universais. A pinguela é frágil na perspectiva de que o mínimo peso poderá ser o suficiente para o seu fim, mas ela é incrivelmente forte no sentido de que persiste em sua existência no limite de suas possibilidades de ser o que é. O Brasileirinhos é a pinguela.
Saibamos, a pinguela não é uma ponte e digo mais, ela na hierarquia ontológica dos corruptíveis que como pó, emporcalham a superfície do real, está acima das mais suntuosas pontes quando em relação aos graus de ser. Há uma incontornável urgência na existência da pinguela que a torna superior a qualquer ponte. A ponte durará mais, a ponte até mesmo poderá nos deleitar esteticamente, mas a pinguela tem a sua força de coesão existencial alicerçada na virtude cardeal da humildade. Não são os pregos ou as amarras que fazem com que precariamente a pinguela resista ao peso daqueles que a necessitam, é pela virtude da humildade que a pinguela mantem-se erguida. O brasileirinhos é a pinguela.
A pinguela como a ponte, une dois que estão distantes, dois que sem o seu auxílio deixariam de estar unidos; nesse sentido tanto uma quanto a outra guardam em si um elogio às faculdades superiores do homem. Sua existência depende da conciliação ordenada entre a inteligência e a vontade que rumarão à necessidade de unir. É um feito exclusivamente humano, logo sublime e que de algum modo relaciona-se com outro feito e esse inequivocamente humano: a religião. O que são as covas ou os túmulos primitivos que não pinguelas que rumam ao Pai. Vejamos, em relação aos túmulos não temos dúvidas, eles nos ligam ao suprassensível, ao mundo celeste, mas terá a ponte ou a pinguela seu valor por conta daquilo a que nos ligam? A que nos ligam as pontes e as pinguelas? Pois muito bem, essa é uma questão quase tola, sendo que cada ponte e cada pinguela nos ligarão a alguma coisa diferente,
mas entre as pontes e as pinguelas já é notório diante de nossa explanação que se por um lado podem nos ligar a muitas coisas, pelo o que diz respeito em específico a uma e a outra, diremos que as pontes nos ligarão necessariamente a algo menos urgente, logo menos necessário do que o que nos ligará a franciscana pinguela. E sendo o Brasileirinhos uma verdadeira pinguela, a que com urgência nos ligará?
Aqui encontro uma questão luminosa, talvez excelsa diante de que mesmo ainda distante de qualquer conclusão, vejo uma parca luz atravessar as frestas da porta de minha alma. É algo que mesmo carregado por piadas baratas, certa tosquice cinematográfica congênita, tem magnanimidade. Aí que reside o mistério da pinguela a qual chamamos Brasileirinhos, ela é tosca, é precária, mas une a nós perdidos e imundos a uma esperança de verdade.

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