Nós aguardávamos com alguma tensão a chegada dos manifestantes pela demoniocracia. Prontos, fardados e ansiosos para dar uso a uma das mais espetaculares invenções já empreendidas pela humanidade: a bala de borracha. Poucas armas são tão efetivas contra esse monstro chamado Massa. Talvez se pudéssemos encapsular em projéteis balísticos doses da assombrosa realidade a qual todos deveríamos curvar os joelhos, teríamos uma alternativa. Mas não a temos, e o máximo que podemos fazer é ao apertar o gatilho da heroica espingarda de calibre 12, esperar que a dor do projétil disparado, ajude o manifestante a retornar à sanidade.
Saibamos, o manifestante com espírito revolucionário é um ser demoníaco, possesso. Há quem duvide que o corpo desse, seja uma apetitosa casa de verão para Satanás. Lembrem-se da má sorte da pobre igreja que estiver no caminho de um protesto. Mesmo que o protesto tenha como alvo o aumento da tarifa de ônibus, ou os ovos de tartaruga esmigalhados na praia, se houver uma igreja no caminho, ela de alguma maneira será atingida, seja por palavras, seja por pedradas. E a bala de borracha no lombo do revolucionário, é de todo certo um ato de caridade cristã. Eu como policial, secretamente trabalho em equipe com Tomás de Aquino; quando preciso, molesto o corpo do possuído e com a bala de borracha marco uma ferida, imprimo pela epiderme esfacelada a vermelhidão da carne que toma a forma do círculo, o início que não tem final. E pelo exíguo sofrimento dessa pequena punição, rezo para que após o rompimento dos vasos sanguíneos, não somente verta sangue, mas entre a palavra do Senhor, através dos argumentos teológicos que minha arma em fogo declara.
Durante o protesto, antes de enfrentarmos os endemoniados, tive uma epifania. Aguardando ordens, parado no meio da rua, vi no céu cinzento um pequeno ponto dourado de luz, que caiu de alturas exosféricas com a graciosidade de uma pluma, foi caindo. Só eu via, e consumado na ardedura do tempo o longo caminho entre o teto do mundo e meu peito, o ponto luminoso dourado, atravessou: o colete a prova de balas, o tecido de minha farda, o algodão de minha camiseta, a pele de meu corpo, minha carne, meus ossos e finalmente no centro da cruz que há na anatomia de qualquer coração, encontrou um sacrário. Todas as fogueiras queimaram em mim um fogo Santo.
Pouco tempo depois, que em fileira com meu batalhão, fiz o sinal da cruz, todos escutamos os urros e estrondos da turba que se aproximava. E logo à barulheira histriônica, dobrou a esquina lentamente centenas de antas raivosas montadas por universotários¹ armados com polígrafos.
¹Roberto piva.
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